Literatos de Hospital

Quando eu acordei no hospital, disseram-me que eu havia sido atropelada.
Ainda atordoada, logo perguntei se alguém havia morrido.

— É proibido falar em morte aqui — disse a gentil senhora.

Pois responda sem demora se o incidente trouxe óbito. Alguém não está bem?

— Você e ninguém além — respondeu-me.

E como estou? Que notícia a senhora traz?

— Não te apraz. Ainda terá que descansar um pouco mais, devido às muitas batidas na cabeça. — ela olhou para o relógio e então percebi que não havia mais conversa.

Com a próxima pergunta cheia de incerteza, selei o destino daquele minuto. Expliquei que sentia um mal súbito, o que me impedia de levantar. Conseguiria eu sentar e ficar a espera de um médico?

— Vou buscar o doutor. Se a senhora sentir dor, deite novamente — ela disse.

Sentei com esperança nos olhos e obedeci ao anseio de provar estar bem. Não fui muito além. As minhas dores marcavam o porém que não me deixaria continuar sentada. A minha cabeça queria e o meu corpo dizia não. Com sofreguidão, deitei a cabeça novamente na cama. O que teria me acontecido? Perdi parte do juízo no acidente? O que houve de lesões na cabeça? Eis que chegou o doutor que logo me olhou e assim me disse:

— sorte a sua ter sido atropelada. Estava deveras cansada e acometida. Foram somente alguns dias parada e há de ficar tudo bem. —

Abalada pelo evento, senti um gosto de sangue na boca. A cabeça tonteou me levando à inconsciência. Não havia presença de espírito no corpo, embora eu ainda pudesse ouvi-lo. O meu coração batia em ritmo de agonia enquanto do médico eu recebia mais uma explicação.

— Após ser examinada, vimos que fora atropelada muitas vezes. Algo foi e voltou, por cima do seu tronco. — neste ponto, o médico se calou.

Doutor, por que viva estou e como não perdi a cabeça? Eis que consigo novamente falar e abrir os meus olhos.

— Pois bem, o caminhão não era material e sua estrutural formal é metafórica — disse ele.

Não consigo compreender. Ao menos prenderam o motorista?

— Minha senhora, preciso que insista nestes próximos dias de recuperação. O acidente em questão foi contornado com o descanso, seu coração está manso e a cabeça tem o balanço requerido. Atropelou a si mesma. — O médico respirou longamente. Em seguida continuou:

— o agente passivo sob ação está no laudo da emoção agora equilibrada. —

Suspirei e balbuciei com a força que me restava um último dito:

Se por cima de mim passei e o descanso é lucidez, retiro-me para mais uns dias de coma.

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